terça-feira, 15 de janeiro de 2008

LAURO MAIA

Lauro Maia (Lauro Maia Teles), compositor, instrumentista e arranjador, nasceu em Fortaleza/CE em 06/11/1912 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 05/01/1950. A mãe era professora de teoria musical e lhe ensinou as primeiras noções de música. Ainda ginasiano, freqüentemente apresentava-se tocando piano no Cine-Teatro Majestic, sendo depois convidado a substituir a pianista que adoeceu.
Em 1938, formou o Quinteto Lupar, com Paulo Pamplona, Ubiraci de Carvalho, Roberto e Antônio Fiuza, estreando no ano seguinte na Ceará Rádio Clube. Na época, era diretor artístico da emissora, alem de ocasionalmente integrar a orquestra da casa como pianista ou acordeonista. Além disso, liderava a Escola de Samba Lauro Maia, fazia pesquisas sobre o folclore cearense e arranjos de musicas para gravações. Casado com Djanira Teixeira, irmã do compositor Humberto Teixeira, transferiu-se para o Rio de Janeiro, sendo contratado pelos editores Irmãos Vitale.
Passou também a trabalhar em cassinos, e em 1942 sua composição Eu vi um leão foi gravada na Odeon pelos Quatro Ases e Um Curinga, mesmo conjunto que lançou em 1944 a marcha de sua autoria Trem de ferro, um de seus maiores sucessos. Em parceria com Humberto Teixeira compôs outros grandes êxitos, como Só uma louca não vê, gravado por Orlando Silva na Odeon em 1945, e, no ano seguinte, Deus me perdoe, lançada em disco por Ciro Monteiro na Victor, obtendo muito sucesso no Carnaval.
Criou um novo ritmo, o balanceio, que fazia prever o baião urbanizado, como nas músicas Marcha do balanceio, gravada por Joel e Gaúcho, e Tão fácil, tão bom, interpretada pelos Vocalistas Tropicais, ambas na Odeon, também em 1946.
Adoecendo, regressou a Fortaleza no ano seguinte, retornando ao Rio de Janeiro em 1948, onde faleceu dois anos depois. Duas músicas de sua autoria foram lançadas postumamente: Trem ô lá lá (com Humberto Teixeira), em 1950, por Carmélia Alves, e o choro Faísca, gravado por Raul de Barros, na Odeon, um ano depois, obtendo êxito. Sua música Trem de ferro foi regravada por João Gilberto em 1961, com sucesso, constando do terceiro LP desse cantor na Odeon. (EMB)


Fan Ran Fun Fan
Composição: Lauro Maia

O xote a capim puba
Só se dança figurado
Dança dez e dança vinte
Mas, é tudo impariado
Dança direito
Não lhe pise na chinela
Cuidado com a menina
Que senão fica sem ela
Dança, dança
Dança comadre que é bom
Dança, dança
Dança compadre que é bom
Dança Maricota
Filha do Coroné
Dança Zé Potoca
Com a comadre Izabé
Dança, dança
Dança meu povo que é bom
Dança, dança
Dança meu povo que é bom.


Deus me perdoe
Composição: (Lauro Maia/ Humberto Teixeira)

Deus me perdoe
Mas levar esta vida que eu levo é melhor morrer
Relembrando a fingida mulher
Que me abandonou
Eu aumento a saudade
Que tanto me faz sofrer
Se ela quisesse voltar
Eu perdoava
Se ela voltasse
Na certa, recordava
O bom tempo feliz que ficou
Ficou pra trás
Tenho sofrido bastante
Não posso mais
Ai, meu Deus

Olha o Gato
Composição: Lauro Maia

Pega o gato com jeito que ele azunha,
Logo vi que era o diabo desse gato
Que roubava as galinhas e comia os pintinhos,
Mas hoje ele paga tim-tim por tim-tim
Vou pega esse gato que é ladrão
Amarrar esse gato com cordão
E matar esse gato, agora não
Ai, não sabe não?
Dar um banho nessa gato com sabão
Judiar com esse gato, com tição
Botar dentro de uma saco e soltar
Soltar lá no meio do mar

Eu Vou Até de Manhã
Lauro Maia
Ôi balancê balançar
Balança pra lá e pra cá
Eu vou até de manhã
Só nesse balancear
Quem balança com jeito
Há de gostar
Dançando dançando não quer mais parar
O camarada fica mole
Fica mole mole
Ôi balancê balançar
Balança pra lá e pra cá
Eu vou até de manhã
Só nesse balancear
Outro dia a charanga
Do Zequinha
Tocou balancê a noite inteirinha
O fole velho ficou rouco
Ficou rouco rouco
Ficou rouco rouco rouco

JUVENAL GALENO


Citado como "o pioneiro do folclore no Nordeste" , a poesia romântica de Juvenal Galeno extrapola o lirismo de caráter pessoal, para cunhar uma dicção popular, de sabor interiorano, em que retrata o Brasil dos pequenos e dos simples.
Observador atento dos costumes do interior, do sertão às praias, Juvenal Galeno sempre quis ser um poeta popular, embora a afirmação de alguns historiadores de que tenha seguido orientação de Gonçalves Dias, quando de sua passagem pelo Ceará em 1859. O fato é que o primeiro livro do então jovem poeta, com 20 anos de idade, teria dado motivo a Gonçalves Dias para dizer-lhe que deveria seguir a poesia popular.
"Prelúdios Poéticos" é de 1856, livro típico do Romantismo, mas a indicação estética de que se valera Gonçalves Dias para orientar o jovem está lá, através de alguns poemas de sabor popular, como A Noite de São João, A Canção do Jangadeiro, Cantiga do Violeiro. Poesia simples, coloquial, a obra de Juvenal Galeno teria o seu ponto alto, já na maturidade do poeta, com o lançamento de Lendas e Canções Populares, de 1865, e com uma nova edição em 1892, acrescida de Novas Lendas e Canções.
Juvenal Galeno da Costa e Silva nasceu em Fortaleza no dia 27 de setembro de 1836, filho de próspero agricultor José Antônio da Costa e Silva. Os primeiros estudos foram feitos em Pacatuba e Aracati. Estudou Humanidades no Liceu do Ceará, já em Fortaleza.
O pai queria o filho trabalhando na área agrícola e por isso o manda estudar "assuntos de lavoura" no Rio de Janeiro, de preferência em fazendas de café. Ao se tornar amigo de Paula Brito, proprietário da famosa tipografia na época, chegou a conhecer Machado de Assis, Quintino Bocaiúva e Joaquim Manuel de Macedo. E sua colaboração literária não tardou a aparecer na revista Marmota Fluminense, onde escrevia Machado de Assis. Quando volta ao Ceará, Juvenal Galeno traz impresso o seu primeiro livro de poemas, feito na Tipografia Americana, do Rio. As críticas são favoráveis, apontando Mário Linhares e Antônio Sales como sendo Prelúdios Poéticos "o marco inicial da literatura cearense".
Um dos fundadores do instituto da Ceará, Patrono da Cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras, Juvenal Galeno, ainda em vida, vê as duas filhas, Henriqueta e Juliana, criarem a Casa Juvenal Galeno, dedicada a assuntos literários e culturais. O poeta, que ficara cego em 1906, por causa de um glaucoma, morre de uremia em Fortaleza no dia 7 de março de 1931, aos 95 anos de idade. (SECULT)

A Jangada

Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
Tu queres vento de terra,
Ou queres vento do mar?
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas,
Das verdes ondas do mar,
És como que pensativa,
Duvidosa a bordejar!
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Saudades tens lá das praias,
Queres n’areia encalhar?
Ou no meio do oceano
Apraz-te as ondas sulcar?
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Sobre as vagas, como a garça,
Gosto de ver-te adejar,
Ou qual donzela no prado
Resvalando a meditar:
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Se a fresca brisa da tarde
A vela vem te oscular,
Estremeces como a noiva
Se vem-lhe o noivo beijar:
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Quer sossegada na praia,
Quer nos abismos do mar,
Tu és, ó minha jangada,
A virgem do meu sonhar:
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Sé à liberdade suspiro,
Vens liberdade me dar;
Se fome tenho - ligeira
Me trazes para pescar!
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

A tua vela branquinha
Acabo de borrifar;
Já peixe tenho de sobra,
Vamos à terra aproar:
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

Ai, vamos, que as verdes ondas,
Fagueiras a te embalar,
São falsas nestas alturas
Quais lá na beira do mar:
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O NATAL


Sempre que nos vemos às vésperas do Natal, coisas do passado se reportam à nossa mente ou imaginamos quadros com neve e lareiras ardendo.
Natal (do latim: natalis, relativo a nascimento, natalício), dia do aniversário de alguém; dia 25 de dezembro, em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus.
Variam consideravelmente as tradições de Natal de um país para outro. Inúmeros costumes são tradicionais na noite de Natal.
No norte da Europa, percebe-se a fusão da concepção cristã do Natal com a festa pagã local do solstício do inverno. Influíram, assim, sobre o caráter das festividades natalinas e culto aos espíritos ancestrais e as saturnais romanas.
A liturgia oficial do dia compreende a missa do Galo, celebrada à meia noite, cerimônia que se caracteriza pela adoração de Cristo na manjedoura.
O hábito oficial do dia compreende a missa do Galo, celebrada à meia-noite, cerimônia que se caracteriza pela adoração de Cristo na manjedoura. Acredita-se que a representação do nascimento de Jesus, ou seja, o presépio, foi introduzida na Igreja por S. Francisco de Assis.
O hábito de dar presentes no Natal é de origem nórdica. Na tradição francesa é o “Bonhomme” Noel (correspondente ao Papai Noel) quem desce do Céu, trazendo presentes para as crianças boas. Noutros países, quem traz presentes é S. Nicolau ou Santa Claus (como nos Estados Unidos).
A árvore de Natal parece de origem relativamente recente; surgiu na Alemanha, há uns 150 anos, sendo tradição paralela, provavelmente, à arvore de Maio, bem mais antiga. Na véspera de Natal a árvore é enfeitada com brinquedos e objetos brilhantes, colocando-se no seu topo a Estrela de Belém ou um Anjo com uma trombeta. As luzes nas árvores são, talvez uma reminiscência da festa judia de Hanucah, ou Festa das Luzes.
Nos países de origem céltica, costuma-se suspender um ramo de árvore, simbolizando o carvalho mágico dos celtas. Em diversas regiões, a moça que passar sob o ramo poderá ser beijada pelo companheiro.
Variam bastante as tradições de Natal; na Rússia, por exemplo, os camponeses cantavam sob as janelas de seus senhores e recebiam, depois, presentes. Em diversos países há danças e cantos próprios dessa data.
Quanto à data do nascimento de Cristo, não se tem uma certeza absoluta; nos Evangelhos, nenhum dado se encontra que permita estabelecer exatamente a data do Natal, havendo várias suposições sobre a razão da escolha, para tal fim, a 25 de dezembro.
Celebrava-se em Roma, antigamente, a festa do solstício, consagrada ao Sol, cuja luz começava a prevalecer sobre a da noite. Era, também, a data comemorativa de Mira. Comparando Cristo com o Sol, o clero romano teria considerado oportuno substituir aquela festa pagã por outra, cristã.
O dia do nascimento de Cristo, comemorado a 25 de dezembro, foi estabelecido em Roma, no século III ou IV, propagando-se pelas igrejas do ocidente e acabando por ser aceito, depois de alguma hesitação, pelas igrejas orientais, que dedicavam à referida comemoração, anteriormente, o dia 6 de janeiro.
As festas natalinas têm, hoje, caráter universal, porém, nota-se certo resfriamento pelas comemorações da importante data em várias regiões; não mais se observa aquela grande animação de antigamente: missa do Galo, presépios, ceias em família, cartões, inocência das crianças, Papai Noel...
As tradicionais festas de Natal não devem esmorecer; ativemos o fogo nas lareiras dos nossos corações!

O NATAL NO MUNDO

Sabemos que a comemoração do nascimento de Cristo não é igualmente celebrada em todos os lugares; mesmo no Brasil, o costume se diferencia de uma região para outra.
Nos estados do norte, predominam as festas folclóricas, chamadas “Pastoris”, que são representações dramáticas encenadas por crianças vestidas à moda de pastores, com temas sobre o Natal e o Presépio. As pastorinhas levam cajados enfeitados com fitas coloridas e dançam em torno do Presépio, homenageando o Menino –Jesus.
Na Bahia, usa-se o mesmo costume e, na semana do Natal são promovidos os Bailes Pastoris, com meninos a dançar junto ao Presépio que, muitas vezes, é montado com figuras vivas, formada por crianças.
Em S. Paulo, o Natal tem comemoração bem variada, devido às diversas colônias que aí se radicaram, sendo mais comuns o costume de Árvore de Natal, com a troca de presentes, o Presépio, o Papai Noel e a Missa do Galo.
Nos demais estados, geralmente, observa-se a tradição do Papai Noel, da Árvore de Natal e do Presépio.
Em outros países as comemorações são as mais variadas.
Em Portugal, costuma-se enfeitar um barco e o carregar de doces e presentes para serem distribuídos às crianças das aldeias.
Na Espanha, o dia 25 de dezembro é festa religiosa, com celebração da Missa do Galo, e a troca de presentes se faz a 6 de janeiro, dia dos Reis Magos; este passam pelas casas e distribuem presentes às crianças, acompanhados de frutas da época e vinho.
Na França, as pessoas, imitando os peregrinos na viagem a Belém, formam uma procissão, que segue até a igreja principal, onde todos se reúnem em volta do Presépio.
Na Escócia, arma-se uma árvore de Natal de azevinho em cada residência, e, ao pé dela, trocam-se beijos e votos de Boas Festas.
Na Irlanda, costuma-se pintar as fachadas das casas pela passagem do Natal; as salas principais são enfeitadas com coroas de pinheiro ou avezinho e a iluminação ganha mais vida e alegria.
Na Inglaterra, as famílias preparam a ceia e reúnem todos os seus membros para comemoração, sendo a principal característica o célebre “bolo de natal”, todo enfeitado com frutas e folhas verdes de azevinho.
Na Suécia, as comemorações começam no dia 12 e, uma menina, simbolizando Santa Luzia, sai com velas na cabeça e, acompanhada de outras, distribui café, doces e bolinhos, cantando músicas especiais.
Na Noruega, costuma-se sair pelos campos e distribuir alimentação aos animais, como aveia e milho.
Na Alemanha, a Árvore de Natal é armada nas ruas e praças, reunindo as pessoas em torno que, alegremente, cantam as canções da época.
Na Dinamarca, existe um Papai Noel muito baixinho e louco por uma sopa de arroz, que as crianças costumam deixar para ele na cozinha.
Na Finlândia, festeja-se alegremente o Sol, que surge em pleno inverno, para iluminar os campos e as cidades e que representa o nascimento de Jesus.
Na Bélgica e na Holanda, é Santa Claus quem visita as famílias e, em uma carruagem puxada a cavalos, chega para distribuir presentes às crianças, que preparam refeições para os cavalos, com feno, aveia e cenouras.
No México, o Natal começa no dia 16 de dezembro e o povo forma uma procissão, imitando o que aconteceu com a viagem de S. José e Nossa Senhora para Belém.
Na Canadá, as crianças colocam meias e sapatos perto da lareira, para que o Menino-Jesus deposite os presentes.
Na Itália, armam-se grandes presépios nas casas e nas praças, e uma velhinha – a Befana – é quem distribui os presentes às crianças.
Na Síria, as famílias cantam salmos com velas nas mãos, em torno de uma fogueira.
Na Rússia, quem oferece presentes é o vovô Geada, no dia do Ano Novo, e são montadas grandes árvores, chamadas Árvores de Ano-Novo.
Nos Estados Unidos nos festejos de Natal, além de servirem-se famosos doces e iguarias, arma-se, geralmente, o presépio, costume este levado pelos alemães, em 1741, iniciado na Pensilvâia.
Na China, em Marrocos, na Tunísia e nas Bermudas, o Natal é, principalmente, comemorado com frutas, doces variados e iguarias.
Assim, a festa do nascimento de Cristo é celebrada por todas as nações, nos mais variados modos, mas a idéia é sempre a mesma e o sentido do Natal é um só no mundo inteiro.

A ÁRVORE DE NATAL

Junto o presépio de Jesus,
há uma árvore sempre verde, símbolo
e garantia de esperança e eterna alegria.

A árvore, carregada de presentes,
está repleta de votos e desejos,
cartões cheios de beijos dos amigos e parentes.

É como a árvore da vida
que todos nos convida, com coragem renovada,
a enfrentar a dura caminhada.

Assim, com olhos de crianças,
mirando a árvore de Natal e o Menino de Belém,
alcançaremos a vitória final.

NOITE FELIZ
(canção tradicional) Franz Gruber


Noite feliz! Noite feliz!
Ó Senhor, Deus de amor.
Pobrezinho nasceu em Belém.
Eis na lapa Jesus, nosso bem!
Dorme em paz, ó Jesus!

Noite feliz! Noite feliz!
Eis que no ar, vêm cantar!
Aos pastores os anjos do céu,
anunciando a chegada de Deus,
de Jesus salvador!

Noite feliz! Noite feliz!
Ó Senhor, Deus da Luz!
Quão afável é teu coração,
Que quiseste nascer nosso irmão,
e a nós todos salvar!

QUILOMBO DOS PALMARES

O Quilombo dos Palmares foi o mais emblemático dos quilombos formados no período colonial, tendo resistido por mais de um século, o seu mito transformando-se em moderno símbolo da resistência do africano à escravatura. Localizava-se na serra da Barriga, região hoje pertencente ao estado de Alagoas, no Brasil.

História

Antecedentes

As primeiras referências a um
quilombo na região remontam a 1580, formado por escravos fugitivos de engenhos das Capitanias de Pernambuco e da Bahia: iniciava-se o período denominado como União Ibérica
.
Em fins do
século XVI, o quilombo ocupava uma vasta área coberta de palmeiras, que se estendia do cabo de Santo Agostinho ao rio São Francisco. Um século mais tarde, esse território encontrava-se reduzido à região de Una e Serinhaém, em Pernambuco, Porto Calvo e São Francisco, atual Penedo
, em Alagoas.

O apogeu

À época das
Invasões holandesas do Brasil (1624-1625 e 1630-1654), com a perturbação causada nas rotinas dos engenhos de açúcar
, registrou-se um crescimento da população em Palmares, que passou a formar diversos núcleos de povoamento (mocambos). Os principais foram:

· Macaco - o maior, centro político do quilombo, contando com cerca de 1.500 habitações;
· Subupira - centralizava as atividades militares, contando com cerca de 800 habitações;
· Zumbi
· Tabocas

Embora não se possa precisar o número de habitantes nos Palmares, de vez que a população flutuava ao sabor das conjunturas, historiadores estimam que, em
1670
, alcançou cerca de 20 mil pessoas.
Essa população sobrevivia graças à
caça, à pesca, à coleta de frutas (manga, jaca, abacate e outras) e à agricultura (feijão, milho, mandioca, banana, laranja e cana-de-açúcar). Complementarmente, praticava o artesanato: (cestas, tecidos, cerâmica, metalurgia). Os excedentes eram comerciados com as populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a alugar terras para plantio e a trocar alimentos por munição
com os quilombolas.
Pouco se sabe, também, acerca da organização política do quilombo. Alguns supõem que se organizou ali um verdadeiro Estado, nos moldes africanos, sendo os diversos mocambos governados por oligarcas sob a chefia suprema de um líder. Os mais famosos foram
Ganga Zumba e seu sobrinho, Zumbi
. Sabe-se, no entanto, que a escravatura também era praticada dentro do quilombo onde diversos nativos eram utilizados como escravos nas plantações.

A repressão

Com a expulsão dos holandeses do
Nordeste do Brasil, acentuou-se a carência de mão-de-obra
para a retomada de produção dos engenhos de açúcar da região. Dado o elevado preço dos escravos africanos, os ataques a Palmares aumentaram, visando a recaptura de seus integrantes.
A prosperidade de Palmares, por outro lado, atraía atenção e receio, e o governo colonial sentiu-se obrigado a tomar providências para afirmar o seu poder sobre a região. Em carta à Coroa Portuguesa, um Governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os
neerlandeses
.
Foram necessárias, entretanto, cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente o Quilombo dos Palmares.
No último quartel do
século XVII, Fernão Carrilho ofereceu a Ganga Zumba, um líder que implementou táticas de guerrilha na defesa do território, um tratado de paz (1677). Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis na região de Cocaú. Grande parte dos quilombolas rejeitou os termos desse acordo, nitidamente desfavoráveis e, na disputa então surgida, Ganga Zumba foi envenenado, subindo ao poder o seu irmão, Ganga Zona
, aliado dos portugueses. O acordo foi, desse modo, rompido, tendo os dissidentes se restabelecido em Palmares, sob a liderança de Zumbi.
No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva por um tipo de estratégia de
guerrilha
, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos, empregando-os em novos ataques.

A ação de Domingos Jorge Velho

Após várias investidas relativamente infrutíferas contra Palmares, o Governador Português de Pernambuco Caetano de Melo e Castro solicitou ao mestre de campo
bandeirante Domingos Jorge Velho e ao Capitão-mór Bernardo Vieira de Melo
para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.
O quilombo passa a ser atacado pelas forças do bandeirante e, mesmo experientes na guerra de extermínio, tiveram grandes dificuldades em vencer as táticas dos quilombolas, mais elaboradas que a dos
indígenas
com quem haviam tido contato. Adicionalmente, tiveram problemas para contornar a inimizade surgida com os colonos da região, vítimas de saques dos bandeirantes em diversas ocasiões.
Em janeiro de
1694, após um ataque frustrado, o exército bandeirante iniciou uma empreitada vitoriosa, com um contingente de seis mil homens, bem armados e municiados, inclusive com artilharia. Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho de que seria libertado em troca da revelação do esconderijo do líder, Zumbi foi encurralado e morto em uma emboscada, a 20 de novembro de 1695
.
A
cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro
, para servir de exemplo a outros escravos.
Sem a liderança de Zumbi, por volta do ano de
1710
, o quilombo desfez-se por completo.

Negro Zumbi
Leci Brandão/ Valdilene/ Afro Mandela

Zumbi, o teu grito ecoou
No Quilombo dos Palmares
Como um pássaro que voou
Tão liberto pelos ares
Um grito de dor e de fé
Ficou registrado na nossa história
Pela luta, pelo axépela garra, pela glória
Negro Zumbi, negro ZumbiNegro Zumbi, negro Zumbi
Conta a força inimiga
A defesa da famíliaLá na Serra da Barriga
Permanente uma vigíçia
Foi preciso o tombamentopela identificação
Foi o reconhecimento dessa serra
Na história da nossa nãção
Negro Zumbi, negro ZumbiNegro Zumbi, negro Zumbi
Quem te faz homenagem
É a banda afro mandela
Da cultura da raça essa banda
É sentinela.

MOVIMENTOS SOCIAIS


Brigamos muito com Portugal antes de conseguirmos a independência.
Em 1684, por exemplo, fazendeiros maranhenses alegavam não ter dinheiro para comprar escravos africanos (os padres dificultavam a escravização de índios). O rei criou uma empresa para financiar a compra, ela não andou direito, os fazendeiros perderam a paciência, fecharam o negócio, expulsaram os jesuítas. Os líderes, Jorge Sampaio e Manoel Bequimão, foram enforcados.

1684
Por trinta dinheiros,
O mascate compra
A mitra do bispo,
O cetro do rei,
A balança da lei.
Só não compra (abusão)
A cumplicidade
De Bequimão.

Em 1720, um minerador de pavio curto, Felipe dos Santos, se recusou a pagar a quinta parte de todo ouro extraído a Portugal. Levantou os outros, mas acabou enforcado e esquartejado.

1720
Pobre despojo
Atado aos cavalos
Do despotismo
Pobre heroísmo
Punido com sangue
Sobre o patíbulo
Amargo de prantos,
Felipe dos Santos.

Em 1798, quatro negros (um soldado e três alfaiates) foram enforcados na Bahia. Queriam a independência, o fim do trabalho escravo e, um deles, a divisão das fortunas. Dezenas de militares, de baixa patente, foram presos, depois libertados. O médico Cipriano José Barata entre eles. Alguns eram maçons, outros, “francesistas”, crentes nas idéias democráticas de Rousseau, Voltaire, Mably etc.

1798
Vosso cuidado media,
Vossa tesoura cortava,
Vossa agulha costurava,
Não a libré do tirano,
Mas a mortalha de pano
Para enterrar o verdugo
Que tantos vos oprimia,
Alfaiates da Bahia.

Em 1817, em Pernambuco, um grupo de revolucionários decidiu fazer a independência imediatamente. A revolta começou num quartel, mas ganhou a rua. Os portugueses que não se enfiaram em casa foram maltratados. O governador, Caetano Pinto, comportou-se como tal. Os revolucionários, na maioria padres, agüentaram-se três meses no poder. Aumentaram o ordenado dos militares, tiraram o comércio da mão dos portugueses, ordenaram que, pobre ou rico, todos fossem chamados de cidadão. Tentaram, em vão, acabar com a escravidão. Centenas de revolucionários, como de costume, foram enforcados. A independência do Brasil estava próxima.

1817
Cruz de jesuíta,
Batina de frade,
Bíblia, escapulário.
Mas (raro litígio)
Um barrete frígio,
Vermelho, escarninho,
Cobrindo a tonsura
De Frei Miguelinho.

Durante o processo da independência, muitas províncias (hoje estados) tentaram se separar do Brasil. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina fizeram isso por dez anos (Guerra dos Farrapos). Giuseppe Garibaldi, carbonário (revolucionário anarquista), ajudou os revolucionário gaúchos a tomar Laguna, ocasião em que roubou do marido a adolescente Anita. Os dois deram uma mão à luta contra a ditadura uruguaia e pela unificação da Itália (onde Anita morreu). Giuseppe lutou até o fim da vida pelo nacionalismo e a justiça social. Foi, há duzentos anos, uma espécie de Ernesto Che Guevara.

1839
Garibaldi
Foi à missa
Convidado,
Mas debalde.
Não há santo,
Nem vigário
Que converta
Um carbonário.

Pedro Ivo Veloso, ídolo da juventude libertária no século 19, foi um guerrilheiro da Rebelião Praieira. Com a derrota, veio preso para o Rio, fugiu num navio estrangeiro, desaparecendo á altura do litoral da Paraíba.

1848
A areia do tempo
Nada guarda. O vento
Logo apaga o equívoco
De oprimidos e opressores.
Mas, Conciliadores,
Lembrai-vos que os vivos
Não enterram mortos
Como Pedro Ivo.

A REVOLTA DA VACINA


A sociedade brasileira passava por profundas transformações. Estava mais complexa e diversificada. As cidades cresciam: expandia-se o parque industrial, vivia-se o surgimento da classe operária e ampliava-se o setor terciário – bancos, comércio e transporte.
O Brasil não era mais só do café.
Em contraponto, a crise social avolumava-se. A insatisfação na sociedade tornava-se cada vez mais forte. Fatos e razões não faltavam para o crescimento do número de descontentes. No governo do presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906), o Rio de Janeiro já acumulava graves problemas urbanos e sociais: pobreza, desemprego e doenças.
Milhares de pessoas morriam em conseqüência de epidemias incontroláveis. Doenças como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola não poupavam vítimas.
Mesmo diante da situação, e sem qualquer cerimônia, o governo de Rodrigues Alves resolveu modernizar a cidade do Rio de Janeiro, capital da República, indiferente à comoção popular.
O centro da cidade mudava rapidamente. Era o chamado “bota-abaixo”, nome popular dado às reformas conduzidas pelo prefeito Pereira Passos. De acordo com os interesses do presidente, áreas residências inteiras foram destruídas para possibilitar alargamento de ruas, remoção de morros, abertura de praças, reforma do porto e ampliação da rede de água e esgoto. A população foi surpreendida pela reforma, vendo-se inesperadamente expulsa para os bairros periféricos longe do trabalho, nos quais erguia barracos para morar. Multiplicaram-se e cresceram as favelas pelas encostas da cidade: Salgueiro, Mangueira, Saúde, Santo Antônio, e, com elas, o samba.
A promiscuidade urbana, a que foi submetida a população pobre, criava sérios riscos para a saúde pública. As epidemias avançavam. Para combatê-las, o governo contou com a ação enérgica do sanitarista Osvaldo Cruz, diretor de Saúde Pública. Travou-se uma intensa batalha. Os funcionários da saúde tentavam exterminar os insetos e os ratos, que ocupavam as ruas e as casas.
Osvaldo Cruz, preocupado com a gravidade da situação, convenceu o presidente Rodrigues Alves a tornar obrigatória, por lei, a vacinação contra a varíola. No entanto, a população que seria vacinada não recebeu as informações suficientes para entender a urgência e a oportunidade da campanha. Sem maiores esclarecimentos, vários segmentos da sociedade reagiram contra a medida, considerando-a como abuso de direito. Mais uma revolta popular contra o governo ganhava força, ficando conhecida como a Revolta da Vacina.

“A VACINA OBRIGATÓRIA”
(Cançoneta de autor desconhecido)

Anda o povo acelerado
Com horror à palmatória
Por causa dessa lambança
Da vacina obrigatória
Os panacas da sabença
Estão teimando dessa vez
Querem meter o ferro a pulso
Bem no braço do freguês.
Os doutores da higiene
Vão deitando logo a mão
Sem saberem se o sujeito

Quer levar o ferro ou não
Seja moço ou seja velho
Ou mulatinha que tem visgo
Homem sério, tudo, tudo,
Leva ferro que é servido

Quem no braço do Zé Povo
Chega o tipo e logo vai
Enfiando aquele troço
A lanceta e tudo mais
Mas a lei manda que o povo
E o coitado do freguês
Vá gemendo na vacina
Ou então vá pro xadrez

Contam um caso sucedido
Que o negócio tudo logra
O doutor foi lá em casa
Vacinar a minha sogra

A velha como um aviso
Teve um riso contrafeito
E peitou com o doutor
Bem na cara do sujeito
E quando o ferro foi entrando
Fez a velha uma careta
Teve mesmo um chilique
E eu vi a coisa preta
Mas eu disse pro doutor
Vá furando até o cabo
Que a senhora minha sogra
É levada dos diabos

De um casal de namorados
Eu conheço a triste sina
Houve forte reboliço
Só por causa da vacina
A moça que era inocente
E um pouquinho adiantada
Quando foi pra pretoria
Já estava vacinada

Eu não vou nesse arrastão
Sem fazer o meu barulho
Os doutores da ciência
Terão mesmo que ir no embrulho
Não embarco na canoa
Que a vacina me persegue
Vão meter o ferro no boi
Ou nos diabos que os carregue.

CHICO BUARQUE


Não é preciso insistir na importância de Chico Buarque para a cultura brasileira. Ninguém duvida dela. Sua atividade como artista, que se estende por mais de quatro décadas e segue muito afiada, já legou ao país uma obra muito extensa e diversificada, mas ao mesmo tempo muito coesa e coerente. As dificuldades de quem pretende se aproximar dela começam por aí: como puxar o fio que a atravessa do início ao fim sem desdenhar suas complexidades, suas modulações, suas sutilezas, suas variações no tempo?
De nenhum outro compositor ou escritor contemporâneo talvez se possa dizer que a história do Brasil, de 1964 até hoje, passa por dentro de sua obra. É exatamente essa a sensação que nos transmite o contato com a criação de Chico. Ela não apenas registra a nossa história, como freqüentemente a revela para nós sob ângulos insuspeitados, amarrando e comunicando a experiência coletiva aos segredos e abismos da subjetividade de cada um. É o inconsciente do país que parece falar na rede simbólica que Chico nos estendeu ao logo dos anos.
Filho de Sérgio Buarque de Holanda, um importante historiador e jornalista brasileiro, e de Maria Amélia Cesário Alvim.
Foi casado com a atriz Marieta Severo com quem teve três filhas: Sílvia, que é atriz e casada com Chico Diaz, Helena, casada com o percussionista Carlinhos Brown e Luísa. É irmão das cantoras Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina.
Nascido numa família ilustre, conheceu Vinicius de Moraes e Paulo Vanzolini dentre outros, antes de iniciar sua carreira, pois eles visitavam com frequência seus pais em sua casa na Itália.
O começo: participação nos festivais da MPB nos anos 60
No início da carreira conheceu Elis Regina, que foi vitoriosa no Festival de Música Popular Brasileira de 1965 com a canção Arrastão; mas a cantora acabou desistindo de gravá-lo devido à impaciência com a timidez do compositor. Chico Buarque se revelou ao público brasileiro quando ganhou o mesmo Festival, no ano seguinte (1966), patrocinado pela TV Record, com A Banda, interpretada por Nara Leão (empatou em primeiro lugar com Disparada, de Geraldo Vandré).
No festival de 1967 faria sucesso também com Roda Viva, interpretada por ele e pelo grupo MPB-4 -- amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em 1968 voltou a vencer outro Festival, o III Festival Internacional da Canção da TV Globo. Como compositor, em parceira com Tom Jobim, com a canção Sabiá. Mas desta vez a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a canção que ficou em segundo lugar: Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré.
Estilo musical
A participação no Festival, com A Banda, marcou a primeira aparição pública de grande repercussão apresentando um estilo amparado no movimento musical urbano carioca da Bossa nova, surgido em 1957. Ao longo da carreira, o samba e a MPB também seriam estilos amplamente explorados.
Composições para o Cinema e livros que se tornaram filmes
Chico participou como ator e compôs várias canções de sucesso para o filme Quando o Carnaval chegar, musical de Cacá Diegues. Compôs a canção-tema do longa-metragem Vai trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana -- a canção ficou tão boa, que Carvana chegou a modificar o roteiro, a fim de usá-la melhor. Faria o mesmo com os filmes seguintes desse diretor: Se segura malandro e Vai trabalhar vagabundo II. Adaptou canções de uma peça infantil para o filme Os Saltimbancos Trapalhões do grupo humorístico Os Trapalhões e com interpretações de Lucinha Lins. Outras adaptações de uma peça homônima de sua autoria foram feitas para o filme A Ópera do Malandro, mais um musical cinematográfico. Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados: Bye Bye Brasil, Dona Flor e seus dois maridos e Eu te amo, os dois últimos com Sônia Braga. Recentemente, chegou a ter uma participação especial como ator no filme Ed Mort. Ele escreveu o livro que virou filme Benjamim, que foi ao ar nos cinemas em 2003, tendo como personagens principais Cleo Pires, Danton Melo e Paulo José

Contribuição para o teatro e a literatura
Musicou as peças Morte e vida severina e o infantil Os Saltimbancos. Escreveu também várias peças de teatro, entre elas Roda Viva (proibida), Gota d'Água, Calabar (proibida), Ópera do malandro e alguns livros: Estorvo, Benjamim e Budapeste.
Chico Buarque sempre se destacou como cronista nos tempos de colégio, seu primeiro livro foi publicado em 1966, trazia os manuscritos das primeiras composições e o conto Ulisses, e ainda uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre A Banda. Em 1974, escreve a novela pecuária Fazenda modelo e, em 1979, Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças. A bordo do Rui Barbosa foi escrito em 1963 ou 1964 e publicado em 1981. Em 1991, publica o romance Estorvo e, quatro anos depois, escreve o livro Benjamim. Em 2004, o romance Budapeste ganha o Prêmio Jabuti. Oficialmente, a vendagem mínima de seus livros é de 500 mil exemplares no Brasil.
A crítica à Ditadura
Ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Nessa época teve suas canções Apesar de você (alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici) e Cálice censuradas pela censura brasileira. Adotou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções. Na Itália Chico tornou-se amigo do cantor Lucio Dalla, de quem fez a belíssima Minha História, versão em português (1970) da canção Gesubambino, de Lucio Dalla e Paola Palotino.
Ao voltar ao Brasil continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, como a célebre Construção ou a divertida Partido Alto. Apresentou-se com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na Inglaterra) e Maria Bethânia. Teve outra de suas músicas associada a críticas a um presidente do Brasil. Julinho da Adelaide, aliás, não era só um pseudônimo, mas sim a forma que o compositor encontrou para driblar a censura, então implacável ao perceber seu nome nos créditos de uma música. Para completar a farsa e dar-lhe ares de veracidade, Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até mesmo a conceder entrevista a um jornal da época.
Uma das canções de Chico Buarque que criticam a ditadura, é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar.
A canção se chama Meu Caro Amigo e foi dirigida a Boal, que na época estava exilado em Lisboa. A canção foi lançada originalmente num disco de título quase igual, chamado Meus Caros Amigos, do ano de 1976.
Nordeste já
Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We Are the World, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.

PADARIA ESPIRITUAL


Em 1892, quando 20 gaiatos cismaram de criar a Padaria Espiritual, nem de longe imaginavam que aquela pilhéria era coisa séria. Seria? Os pândegos não arredavam pé no Café Java, espécie de Estoril da Fortaleza de final de século. Quando não estavam por lá, a dar mostras de enxerimento, se dedicavam às artes. Nada mais natural, portanto, que criar uma sociedade literária. Os fins eram pretensiosos, fazer e espalhar cultura, o tal pão do espírito” .
Padaria espiritual (
1892 - 1898) foi um movimento de cunho intelectual fundado em 30 de maio de 1892 no Ceará, cujo lema era "alimentar com pão o espírito dos sócios e da população em geral". A instalação contou com programa escrito por Antônio Sales, o qual foi transcrito em um jornal da então capital federal, o Rio de Janeiro, o que deu notoriedade ao movimento. A cada domingo, um jornalzinho de oito páginas chamado O Pão era "amassado" e fez circular 36 números, até que em dezembro de 1898, depois de 6 anos de atividades, a Padaria fecha.
Estatutos da Padaria Espiritual
Os Estatutos da Padaria Espiritual, escritos muitos anos antes da
Semana de Arte Moderna de 22, deixam claro o caráter pioneiro deste movimento literário modernista, que foi assim o precursor das academias de letras no Brasil. Seguem-se alguns estatutos:
* Fica organizada, nesta cidade de Fortaleza, capital da "Terra da Luz", antigo Siará Grande, uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral.
* A Padaria Espiritual se comporá de um Padeiro-Mór (presidente), de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador das Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Providência, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão a denominação geral de Padeiros.
* Fica limitado em vinte o número de sócios, inclusive a Diretoria, podendo-se, porém, admitir sócios honorários que se denominarão Padeiros-livres.
* Depois da instalação da Padaria, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer outro trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.
* O distintivo da Padaria Espiritual será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira, que terá as cores nacionais.
* As fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à excepção das quintas-feiras, e aos domingos, ao meio-dia.
* Far-se-ão dissertações biográficas acerca de sábios, poetas, artistas e literatos, a começar pelos nacionais, para o que se organizará uma lista, na qual serão designados, com a precisa antecedência, o dissertador e a vítima. Também se farão dissertações sobre datas nacionais ou estrangeiras.
* Essas dissertações serão feitas em palestras, sendo proibido o tom oratório, sob pena de vaia.
* E proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula, sendo, porém, permitido o emprego dos neologismos do Dr. Castro Lopes.
* Os Padeiros serão obrigados a comparecer à fornada, de flor à lapela, qualquer que seja a flor, com excepção da de chichá.
* Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar no sábado café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina, pode ser dispensado da multa da semana seguinte.
* O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plagio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.
* É proibido fazer qualquer referência à rosa de Malherber e escrever e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos álbuns.
* Durante as fornadas, é permitido ter o chapéu na cabeça, exceto quando se falar em Homero, Shakespeare, Dante, Hugo, Goethe, Camões e José de Alencar porque, então, todos se descobrirão.
* Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.
* Será preferível que os poetas da "Padaria" externem suas idéias em versos.
* Trabalhar-se-á por organizar uma biblioteca, empregando-se para isso todos os meios lícitos e ilícitos.
* São considerados, desde já, inimigos naturais dos Padeiros - o Clero, os alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.
* Será punido com expulsão imediata e sem apelo o Padeiro que recitar ao piano.
* A Padaria Espiritual obriga-se a organizar, dentro do mais breve prazo possível, um Cancioneiro Popular, genuinamente cearense.
* Publicar-se-á , no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações uteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.
* As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio excetuadas: as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.
* O Padeiro que, por infelicidade, tiver um vizinho que aprenda clarineta, pistom ou qualquer outro instrumento irritante, dará parte à Padaria que trabalhará para pôr termo a semelhante suplício.
* Independente das disposições contidas nos artigos precedentes, a Padaria tomará a iniciativa de qualquer questão emergente que entenda com a Arte, com o bom Gosto, com o Progresso e com a Dignidade Humana.

PADARIAL ESPIRITUAL
(Ednardo)

Nessa nova padaria espiritual
Nessa nova palavra de ordem geral
Eu faço o pão do espírito
E você cuida do delito
De comer, de comer
Onde e como cometer
De comer, de comer
Onde e como cometer

Coma tudo, tudo o que você puder
Arrote e coma você mesmo até
Consuma tudo em suma
Definitiva e completamente
Na destruição somente deste absurdo aniquilamento
É talvez surja um outro novo momento
Na destruição somente deste absurdo aniquilamento
É que talvez surja um outro novo momento
Um outro novo momento
Um outro novo momento.

SECA NO NORDESTE


A distância do Nordeste dos grandes centros de decisão política e administrativa do País, a omissão e a indiferença das autoridades são as causas principais do agravamento dos problemas da seca. Morre-se de fome e de sede quase da mesma forma como se morria há um século em conseqüência de estiagem prolongada.
Pouco mudou no sertão nordestino nesta virada de século. Se existem estradas asfaltadas, cortando seu território árido, se conta com a energia elétrica em vilas e nas grandes propriedades, se há telefone em diferentes pontos, se a televisão é captada inclusive com o auxílio de antenas parabólicas, se as grandes carretas trazem e levam mercadorias no lugar das carroças, se as bicicletas e os automóveis e utilitários de luxo substituem os cavalos até mesmo nas zonas rurais; se existem 303 açudes públicos de médio e grande porte e mais 600 particulares, com possibilidade para armazenar 20 bilhões de metros cúbicos de água; se tudo é realidade moderna, o espectro da miséria, por outro lado, continua a ser um velho retrato do Nordeste.
A seca continua a provocar o desespero, o sofrimento e até a morte por inanição, como antes. Na chamada Grande Seca, transcorrida em 1877 a 1880 as estatísticas revelam ter morrido mais da metade dos 1.785.000 residentes na área nordestina castigada pelo flagelo. A calamidade encontrou a região desprevenida, com apenas a barragem do Cedro em fase de estudos, não obstante as inúmeras comissões criadas para estabelecerem alternativas para amenizar os efeitos dos invernos irregulares.
Nesse ínterim, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e, posteriormente, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste foram criados. Cada autarquia estudou a questão, observou a natureza e desenvolveu ações paliativas. Mas, basicamente, nada mudou e a única novidade no tratamento da matéria foi o aparecimento, ou a constatação científica, da figura do fenômeno El Nino como o responsável principal pelas cheias arrasadoras ou pelas secas causticantes registradas não só no nordeste brasileiro como em vários países.
Se no passado a desgraça da seca era atribuída à vontade de forças espirituais, esse entendimento evoluiu e já se conhece a sua origem natural. A ciência e a tecnologia podem mudar o perfil do fenômeno, como acontece em muitos lugares desenvolvidos. Todavia, enquanto não aparecer a vontade política de substituir esse cenário, os 30% de brasileiros alojados no Nordeste vão padecer esse mal crônico.
Quando são vistas pessoas disputando a sobrevivência com os animais, comendo a mesma comida e bebendo a mesma água, num período tão orgulhoso de grandes conquistas tecnológicas, é um contraste absurdo e humilhante. Não se pode mudar a natureza das coisas: se a maior parte do Nordeste é semi-árido, será impossível transformá-lo num campo fértil. Mas conforma-se com a tragédia humana, suscetível de ser eliminada por medidas econômicas e sociais, é uma atitude passiva difícil de entender.
Muitas pesquisas foram feitas sobre o homem e a seca no Nordeste, enfocando aspectos cartográficos, geológicos, hidrológicos, botânicos, antropológicos, sociológicos, utilizando-se de cientistas brasileiros e estrangeiros, tarefa executada pelo sucessivos governos, sem contudo se chegar a uma solução ideal e definida. O tempo e o dinheiro gastos em tais esforços, sem critério e sem direcionamento, não mudaram a face dessa vasta região ainda com incapacidade de sobreviver dignamente.
É preciso algo mais, além da demagogia política nas ocasiões de clímax do flagelo, como agora. É necessário um programa permanente, a ser executado mesmo nos períodos de chuvas regulares, para compor reservas hídricas e educar as populações sertanejas.

VACA ESTRELA E BOI FUBÁ
Patativa do Assaré

Seu dotô, me dê licença
Pra minha história eu contá
Se hoje eu tou na terra estranha
E é bem triste o meu pená,
Mas já fui muito feliz
Vivendo no meu lugá.
Eu tinha cavalo bom,
Gostava de campeá
E todo dia aboiava
Na portêra do currá
Ê ê ê ê Vaca Estrela,
Ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou fio do Nordeste,
Não nego o meu naturá
Mas uma seca medonha
Me tangeu de lá pra cá.
Lá eu tinha meu gadinho
Não é bom nem imaginá,
Minha bela linda Vaca Estrela
E o meu belo Boi Fubá,
Quando era de tardezinha
Eu começava a aboiá.
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha
Fez tudo se trapaiá;
Não nasceu capim no campo
Para o gado sustentá,
O sertão esturricou,
Fez os açudes secá,
Morreu minha Vaca Estrela,
Se acabou meu Boi Fubá,
Perdi tudo quanto tinha
Nunca mais pude aboiá.
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá.

E hoje, nas terras do Sú,
Longe do torrão natá,
Quando vejo em minha frente
Uma boiada passá,
As águas corre dos óio,
Começo logo a chorá,
Me lembro da Vaca Estrela,
E o meu lindo Boi Fubá;
Com sodade do Nordeste
Dá vontade de aboiá.
Ê ê ê ê Vaca Estrela
Ô ô ô ô Boi Fubá.



VOZES DA SECA (Luís Gonzaga)



Composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão


Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertãoMas doutô uma esmola a um homem qui é são


Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão


É por isso que pidimo proteção a vosmicê


Home pur nóis escuído para as rédias do pudê


Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê


Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê


Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage


Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage


Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage


Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage


Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão


Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!


Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão


Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos.

PADRE CÍCERO


Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.
Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma.
Um fato importante marcou sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras – Paraíba. Aí pouco demorou, pois, a inesperada morte do seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras.
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário de Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.

Ordenação

Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato, e enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

Chegada a Tabuleiro Grande

No Natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, que pertencia a cidade do Crato), e aí celebrou a tradicional missa do galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava, de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.

Caldeirão

O que aconteceu no Caldeirão encerra um ciclo de domínio pessoal e absoluto do Padre Cícero Romão Batista que reinou no Cariri com extensão à capital cearense. Tudo começou a partir do fenômeno, considerado por muitos como milagre, em 1889, quando a hóstia consagrada transformou-se em sangue na boca da Beata Maria de Araújo ao receber a comunhão do Padre Cícero.
Numa mistura de religião, política, violência, fanatismo, centrada na figura do Pe. Cícero Romão Batista, a Meca do Cariri atravessou a passagem do Século XIX e as primeiras décadas do atual vivendo num contexto atípico no Nordeste brasileiro.
Rechaçado pela cúpula da Igreja Católica (que nunca digeriu o “milagre”), mesmo sendo venerado e adorado por milhares de romeiros, Pe. Cícero transformou Juazeiro num poderoso centro religioso / político.
A partir de 1908, com a chegada do baiano Floro Bartolomeu, o religioso assume outra vertente: o poderoso líder político da região. Em 1911 patrocina o famoso “pacto dos coronéis”, seu primeiro ato político para pacificar famílias poderosas da região. Três anos depois acontece a “Sedição de Juazeiro”, insurreição que culminou com a invasão de Fortaleza por jagunços e pistoleiros, resultando com a deposição do presidente do Ceará, o coronel Franco Rabelo. Nessa época, o Beato Zé Lourenço começa a executar sua primeira experiência de trabalho comunitário na Baixa dos Dantas, no município do Crato, com o apoio do Padre Cícero. Os agricultores desempregados, que chegavam a Juazeiro, eram levados para a comunidade do beato. O sítio foi invadido pelos jagunços da “Sedição” que levaram tudo. O beato e seus seguidores são obrigados a bater em retirada.
No mesmo ano, Floro Bartolomeu morreu no Rio de Janeiro e o Padre Cícero reata amizade com o Beato Zé Lourenço e ofereceu-lhe um terreno acidentado, onde o beato e sua comunidade passam a trabalhar dia e noite. Eles transformam o sítio Caldeirão em um oásis de fartura onde não circulava dinheiro e tudo era de todos. Na seca de 32, por exemplo, quando muitos nordestinos morreram de fome, o Caldeirão alimentou milhares de famílias.
A inveja crescia na mesma proporção que a comunidade aumentava. Os políticos e donos de terras odiavam aquela concentração de trabalhadores livres e fustigavam a opinião pública, fazendo comparações com canudos. Antes de morrer, em 1934, Padre Cícero deixa no seu testamento a doação do sítio caldeirão para os padres salesianos. Documentados, os padres passam a exigir o que lhes pertence. Um perfeito álibi usado pela igreja para defenestrar o surgimento de uma nova liderança espiritual, um novo Padre Cícero, uma espécie de comunhão no poder a partir do povo. A solução foi radical: chamaram a Polícia e transformaram em cinzas aquela bem-sucedida ação comunitária. Aí nasceu o embrião da tragédia.

Beata Mocinha
(Zé Ramalho e Manezinho Araújo)

Minha santa beata mocinha
Eu vim aqui vim vê meu padrim
Meu padrim fez uma viagem, ôi
Deixou Juazeiro sózim

Meu padrim Padre Ciço
Foi pro céu vendo o povo sem sorte
Ao Senhor, foi pedir
Proteção pros romeiros do Norte.

Padre Cícero
(Letra Tim maia)

No sertão do mapa, nasce um homem pobre
Porem muito jovem, porem muito jovem
Todo mundo vai saber, quem ele é
Este homem estuda, mesmo sem ajuda
Se formou primeiro e no juazeiro
Todo mundo respeitou, padre Cícero
Padre Cícero, padre Cícero, padre Cícero
Daí então tudo mudou, de reverendo a lutador
Desperta ódio e amor, passaram anos pra saber
Se era amor ou mal, mas ninguém
Até hoje afirmou
Era um triste dia, pois alguém jazia
Cego, surdo e pobre, cego, surdo e pobre
Desse jeito faleceu, padre Cícero
Padre Cícero, padre Cícero.

O CONTESTADO


Desde a criação da província do Paraná, em 1853, seus dirigentes questionavam os limites estabelecidos, sobretudo com Santa Catarina. Essa divergência levou ao surgimento da Questão do Contestado. O termo contestado deriva do verbo contestar, questionar, e passou a designar a região que foi objeto de disputa entre Santa Catarina e Paraná.
Em 1890, um grupo de catarinenses solicitou ao governo brasileiro uma definição de limites entre os dois estados. Não obtendo resposta, os catarinenses resolveram entrar com uma ação judicial, reivindicando a posse da região situada ao sul dos rios Negro e Iguaçu.
Por duas vezes, o governo deu ganho de causa a Santa Catarina, mas o Paraná adiou a execução da sentença.
Paralelamente a essa questão de limites, em 1910, a Brazil Railway Company, uma empresa norte-americana, conclui a estrada de ferro que ligava o estado de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Em seguida, cumprindo um dos termos do contrato, a companhia deu início à colonização de uma faixa de 15 quilômetros de cada lado da via férrea. Não levou em conta, porém, o fato de essa área já pertencer a pequenos proprietários e lavradores, que ficaram descontentes com a interferência da companhia em suas terras.
Pouco depois, a Lumber, poderosa madeireira estrangeira ligada à Brazil Railway Company, estabeleceu-se na zona sob contestação. Essa companhia tinha autorização para explorar a madeira da região, desde que a colonizasse.
A atividade dessa empresa, porém, afastava cada vez mais a possibilidade de um acordo entre o Paraná e Santa Catarina, pois ambos queriam apossar-se da região, de terras muito férteis, que apresentava grande potencial de desenvolvimento. Enquanto os dois estados aguardavam uma decisão de governo federal, um fato novo complicou a situação.
No século XIX, durante o Segundo Reinado, os habitantes do planalto, tanto paranaense como catarinense, conviveram por muitos anos com João Maria de Agostini, monge italiano que pregava um catolicismo rudimentar, mas que conquistou a confiança das pessoas simples que aí habitavam e adquiriu fama de milagreiro. Da mesma forma que tinha aparecido, João Maria sumiu, ficando, porém, com a fama de santo. No período republicano, outro “monge” com o mesmo nome passou a atuar na região situada entre os rios Iguaçu e Uruguai.
O término da construção da estrada de ferro, em 1910, deixara desempregados cerca de 8 mil trabalhadores, oriundos de vários estados brasileiros. Os donos das fazendas começaram a ficar preocupados com essa massa de desocupados, que, para sobreviver, invadia as propriedades vizinhas.
Nesse momento, na região de Campos Novos, surgiu mais um “monge”, na realidade um desertor do exército paranaense que se dizia irmão de João Maria. A população, pobre e desempregada, via nele um curandeiro e profeta. Em 1912, o “monge” José Maria conseguiu reunir em Taquaruçu, os fazendeiros e proprietários locais, preocupados com esse grupo, mandaram uma força policial para afastá-lo. Com muito custo, José Maria e seus seguidores saíram da região, atravessaram o rio do Peixe e foram para os Campos de Irani, que estavam sob controle do governo do Paraná.
A reação dos paranaenses não se fez esperar. A ordem do governo do Paraná para desocupação da área foi imediata. No dia 22 de outubro de 1912, soldados paranaenses atacaram o acampamento dos rebeldes. Travou-se uma luta sangrenta, na qual morreram José Maria e também o comandante das tropas paranaenses.
A derrota dos paranaenses repercutiu no Brasil todo. Os homens de José Maria retornaram para a região catarinense de Campos Novos. Surgiu entre eles um novo líder, Eusébio Ferreira dos Santos, e também um boato de que o “monge” José Maria iria ressuscitar e levá-los a vitória.
Várias foram as tentativas de destruir o redutor de Taquaruçu, todas fracassadas. Somente em 1914, quando uma parte dos rebeldes se retirou para Caraguatá, é que o acampamento de Taquaruçu foi destruído. Uma epidemia de tifo obrigou os rebeldes a abandonar Caraguatá e a formar novos redutos.
Decidindo dar fim ao movimento, o governo federal assumiu o comando das operações, e os redutos rebeldes foram sendo gradativamente destruídos.
Em outubro de 1916, foi assinada a Convenção de Limites entre Santa Catarina e o Paraná. Do total da área disputada, estimada em 47.820Km2 , o Paraná ficou com 20.310Km2 e Santa Catarina, com 27.510Km2.

Guerra do Contestado
(Letra e Música: Rogério Joe, Pedro L de Souza)

Há muitos anos firmado, uma divisão de terra
Na capital Rio de Janeiro, depois de uma grande guerra
Tinham rebeldes e jagunços, contra as tropas militares
Nega Jacinta e João Maria, personagens exemplares

Americanos se instalaram, no nosso planalto norte
Acabaram com a madeira, foram-se e deixaram a morte
Extraindo a erva mate, explorando a exportação
Pelo processo barbaquá, riqueza da nossa região

Também tivemos imbuia, dez metros de circunferência derrubado em alguns minutos, com mil anos de existência
Depois que a estrada de ferro, atravessou nosso estado
Oito mil trabalhadores, ficaram desempregados.

Taquaruçú caraguatá, São Pedro Santa Maria vilarejo onde os rebeldes, fizeram seu dia a dia um movimento sertanejo, assim ele foi chamado esta é uma versão, da Guerra do Contestado.

GUERRA DE CANUDOS


A Guerra de Canudos, revolução de Canudos ou insurreição de Canudos foi um movimento político-religioso brasileiro que durou de 1893 a 1897, ocorrido na cidade de Canudos no interior do Estado da Bahia. Decorrente da grave crise econômica e social que se encontrava a região, aonde havia latifúndios improdutivos, seguida de secas cíclicas, desemprego crescente, e um pessoal bastante religioso.
Na Guerra de Canudos os revoltosos não contestavam o regime republicano recém adotado. Entretanto, o governo os acusava disso, ganhando assim o apoio da população do sudeste para combatê-los. A liderança do movimento era exercida por Antônio Conselheiro, baseava-se na motivação religiosa. Todo o conflito foi retratada no livro ”Os Sertões” de Euclides da Cunha, que a presenciou como repórter do jornal O Estado de S. Paulo, na verdade foi mais uma intentona religiosa do que realmente política.

Origem

A situação na região, na época, era muito precária. Havia fome, seca constante, a miséria e a violência afetava a região. A situação, somada com a alta religiosidade local, acabou por gerar distúrbios sociais, os quais o Governo local, na época sem condições de combatê-lo, acabou por gerar um conflito maior.
Em novembro de 1896, no sertão da Bahia, explodiu num conflito civil. Com duração de quase um ano, até 05 de outubro de 1897, e, devido ao ímpeto, o governo da Bahia pediu o apoio da República para conter este movimento.
Conselheiro, alcunha de Antônio Conselheiro, o mentor e comandante da revolta, que passou a ser conhecido logo depois da Proclamação da República, era quem liderava o movimento. Ele acreditava que era um enviado de Deus para acabar com as diferenças sociais e a cobrança de impostos.
Com estas idéias em mente, ele conseguiu reunir um grande número de seguidores que acreditavam que ele realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza. Com o passar do tempo, as idéias iniciais de Conselheiro foram sendo usadas como modo de justificar roubos e outras atitudes que em nada se pareciam com nenhum tipo de ensinamento religioso, pois ele proibia com severidade tal ato. Na verdade quem esparramou o boato foi a república a fim de debilitar a revolta.
Devido à enorme proporção deste movimento, o governo da Bahia não conseguiu sozinho segurar a grande revolta que acontecia em seu Estado. Por esta razão, pediu a interferência da República, que, por sua vez, também encontrou muitas dificuldades para conter os fanáticos. Somente no quarto combate, onde as forças de República melhor equipada acabou por vencer a batalha final em sua quarta expedição.
A Guerra de Canudos propriamente dita durou um ano e, segundo a história, mobilizou ao todo mais de dez mil soldados oriundos de 17 Estados brasileiros, distribuídos em quatro expedições militares. Calcula-se que morreram ao todo mais de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da cidade palco da guerra.


OS SERTÕES
(Edeor de Paula)

Marcado pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão
A terra é seca
Não se pode cultivar
Morrem as plantas
E foge o ar
A vida é triste
Nesse lugar

Sertanejo é forte,
Supera a miséria sem fim
Sertanejo homem forte,
Dizia o poeta assim

Foi no século passado
No interior da Bahia
O homem revoltado com a sorte
Do mundo em que vivia
Ocultou-se no sertão
Espalhando a rebeldia
Se revoltando contra a lei
Que a sociedade oferecia

Os jagunços lutaram até o final
Defendendo Canudos
Naquela Guerra Fatal


Antônio Conselheiro
(Patativa do Assaré)

Cada um na vida tem
seu direito de julgar,
como tenho o meu também,
com razão quero falar
nestes meus versos singelos
mas de sentimentos belos,
sobre um grande brasileiro
cearense, meu conterrâneo
líder sensato e espontâneo
nosso Antônio Conselheiro

Este cearense nasceu
lá em Quixeramobim,
se eu sei como ele viveu,
sei como foi o seu fim.
Quando em Canudos chegou,
com amor organizou
um ambiente comum
sem enredo nem engodos,
ali era um por todos
e eram todos por um.
Não pode ser justiceiro
e nem verdadeiro é
o que diz que o Conselheiro
enganava a boa fé.
O Conselheiro queria
acabar com a anarquia
do grande contra o pequeno
pregava no seu sermão
aquela mesma missão
que pregava o Nazareno

Da catástrofe sem par
o Brasil está ciente,
não é preciso eu contar
pormenorizadamente
tudo quanto aconteceu,
o que Canudos sofreu
nós guardamos na memória
aquela grande chacina,
a grande carnificina
que entristece a nossa história

Quem andar pela Bahia
chegando ao dito local
onde aconteceu um dia
o drama triste e fatal,
parece ouvir os gemidos
entre os roucos estampidos
e em benefício dos seus
no momento derradeiro,
o nosso herói brasileiro
pedindo justiça a Deus.

HOMENAGEM A "CHE"


Quem é que nunca viu um cartaz ou uma camiseta com o retrato daquele sujeito de boina com uma estrela, barba rala e olhar pro futuro?
Ernesto Guevara de La Serna nasceu na Argentina em 1928. Foi um jovem estudioso, mas que curtia aventuras: pilotava aviões e praticava alpinismo. Quando era universitário, viajou toda a América Latina de moto. Formado em medicina (1953) foi pra Guatemala ajuda as comunidades carentes. Consciente politicamente, queria se engajar na luta contra a opressão. Sua paixão pela justiça social era tão grande quanto a paixão que tinha pelas mulheres...
No México, Che Guevara ficou amigo de Fidel Castro e juntou-se a ele, que retornava a Cuba. Guevara foi um dos principais comandantes guerrilheiros.
A revolução triunfante transformou mansões em hospitais, prisões em escolas. Che Guevara tornou-se presidente do Banco estatal. Seu primeiro ato: baixar o próprio salário de 5.000 pesos para apenas 200.
Incansável, Che Guevara quis apoiar diretamente a luta dos povos do mundo contra o imperialismo. Estava com 37 anos, com o restinho da juventude escoando pelo ralo do tempo. Veio então a tragédia. Estava na guerrilha boliviana quando foi assassinado por agentes da CIA, em 9 de outubro de 1967.
Não são os heróis que fazem a história. Mas a luta de um povo por sua liberdade também é a luta pelos direitos do indivíduo. Inclusive o direito de ser único, especial, amado por todos os que vivem pelo triunfo da justiça. Talvez não lutemos mais como Che Guevara lutou. Mas o sonho, bem, este sonho não acabou...
Homenagem a Che

O nascedor

Por que será que o Che
tem esse perigoso costume
de seguir sempre
renascendo?
Quanto mais o insultam,
o manipulam
o tracionam, mais renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será porque o Che
dizia o que pensava
e fazia o que dizia?
Não será por isso, que segue
sendo tão extraordinário,
num mundo em que
as palavras e os fatos
raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam,
porque não se
reconhecem?

Soy loco por ti, América
Gilberto Gil

Soy loco por ti, AméricaYo voy traer una mujer playera Que su nombre sea Marti Que su nombre sea Marti Soy loco por ti de amores Tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica Y el cielo como bandera Y el cielo como bandera Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores Sorriso de quase nuvem Os rios, canções, o medo O corpo cheio de estrelas O corpo cheio de estrelas Como se chama a amante Desse país sem nome, esse tango, esse rancho, esse povo, dizei-me, arde O fogo de conhecê-la O fogo de conhecê-la Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores El nombre del hombre muerto Ya no se puede decirlo, quién sabe? Antes que o dia arrebente Antes que o dia arrebente El nombre del hombre muerto Antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica El nombre del hombre es pueblo El nombre del hombre es pueblo Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores Espero a manhã que cante El nombre del hombre muerto Não sejam palavras tristes Soy loco por ti de amores Um poema ainda existe Com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra, quem sabe canções do mar Ai, hasta te comover Ai, hasta te comover Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores Estou aqui de passagem Sei que adiante um dia vou morrer De susto, de bala ou vício De susto, de bala ou vício Num precipício de luzes Entre saudades, soluços, eu vou morrer de bruços nos braços, nos olhos Nos braços de uma mulher Nos braços de uma mulher Mais apaixonado ainda Dentro dos braços da camponesa, guerrilheira, manequim, ai de mim Nos braços de quem me queira Nos braços de quem me queira Soy loco por ti, América Soy loco por ti de amores

Homenagem ao Che, escrita no dia de sua morte, seu nome foi omitido em função da censura da ditadura militar.
CUBA: o socialismo na América
Independente desde 1902, Cuba continuou, por décadas, sendo dominada economicamente pelos EUA, que apoiavam a ditadura militar instalada no país, em 1952, por Fulgencio Batista. Em 1956, o advogado Fidel Castro, com a ajuda do argentino Che Guevara, montou uma base rebelde em Sierra Maestra, no leste da ilha. Em 1959 tomou Havana e instaurou um governo revolucionário.
Fidel decretou a reforma agrária e nacionalizou as empresas norte-americanas instaladas no país. Os EUA reagiram com um bloqueio comercial, em 1962. Cuba aproximou-se da URSS e tornou-se o único país socialista da América. As reformas garantiram várias melhorias sociais, mas a economia continuou precária e fortemente dependente da ajuda russa. Descontentes, milhares de pessoas deixaram a ilha. Mesmo após o colapso soviético, o regime cubano se mantém, atualmente com apoio da Venezuela de Hugo Chávez.

PATATIVA DO ASSARÉ


As penas plúmbeas, as asas de cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram poeta Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo o Brasil como Patativa do Assaré, referência ao município em que nasceu. Analfabeto “sem saber as letras onde mora”, como diz num de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de “Triste Partida”, toada de retirante gravada por Luiz Gonzaga.
Filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva, Patativa do Assaré veio ao mundo no dia 9 de março de 1909. Criado num ambiente de roça, na Serra de Santana, próximo a Assaré, seu pai morrera quando tinha apenas oito anos legando aos seus filhos Antônio, José, Pedro, Joaquim, e Maria o ofício da enxada, “arrastar cobra pros pés”, como se diz no sertão.
A sua vocação de poeta, cantador da existência e cronista das mazelas do mundo despertou cedo, aos cinco anos já exercitava seu versejar. A mesma infância que lhe testemunhou os primeiros versos presenciaria a perda da visão direita, em decorrência de uma doença, segundo ele, chamada “mal d´olhos”.
Sua verve poética serviu vassala a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir a condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste:

“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.”

Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino, o Patativa do município de Assaré, no Vale do Cariri, nunca quis ganhar a vida em cima do seu dom de poeta. Mesmo tendo feito shows pelo Sul do país, quando foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70, considerava-se o mesmo camponês humilde e morava no mesmo torrão natal onde nasceu, no seu pedaço de terra na Serra de Santana...

Patativa grava seu canto em disco

A estréia do vate cearense em vinil se deu no ano de 1979, quando gravou o LP “Poemas e Canções”, lançado pela CBS. As gravações foram realizadas em recital no Teatro José de Alencar, em Fortaleza. Cantando para seu povo brincou poeticamente com o fato de estar sendo gravado em disco de abertura A dor Gravada:

“Gravador que está gravando
Aqui no nosso ambiente
Tu gravas a minha voz,
O meu verso e o meu repente
Mas gravador tu não gravas
A dor que meu peito sente”.

O recital fez parte de uma revisão cultural que a nova classe intelectual ligada à música e ao cinema faz sobre a obra dos grandes poetas populares cearenses como Cego Oliveira, Ascenso Ferreira e o próprio Patativa. Artistas como Fagner, o cineasta Rosemberg Cariri e outros, se encarregaram de produzir em vídeo e película documentários com finalidade de registrar um pouco da cultura em molde mais genuíno.
Do mesmo disco é a destemida Senhor Doutor, que em pleno governo do General Ernesto Geisel falava em baixos salários numa posição de afronta em relação à situação da elite, representada pela figura do doutor. Assim vocifera o bardo do Assaré, com seu ressonante gogó:
“Sinhô Doto não se enfade
Vá guardando essa verdade
E pode crê, sou aquele operário
Que ganha um pobre salário
Que não dá pra comer.”

Após a gravação do primeiro LP o recitador, fez uma série de shows com seu discípulo Fagner. Em 81 a apresentação da dupla no Festival de Verão do Guarujá ganha repercurssão na imprensa. Nesta mesma ocasião gravou seu segundo LP “A Terra é Naturá”, também pela CBS. Patativa sempre cantou as saudades da sua terra, embora não tenha deixado o seu Cariri no último pau-de-arara, como diz a letra. Seu lamento arrastado e monocórdico acalanta os que se retiraram e serve de ombro aos que ficam.
A “Toada-aboio”, “Vaca Estrela e Boi Fubá” que narra a saudade da terra natal e do gado foi o sucesso do disco em versão gravada por Fagner no LP “Raimundo Fagner”, de 1980.

“Eu sou filho do Nordeste, não nego o meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá.
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar”.

Outro ponto alto do disco “A terra é Naturá” que foi lançado em CD pela 97 é a poesia Antônio Conselheiro que narra a saga do messiânico desde os dias iniciais em Quixeramobim, no Ceará até o combate final no Arraial de Belo Monte, na Fazenda Canudos, em 1897. Patativa, como muitos dos cantadores, registram na memória as histórias que bóiam no leito da tradição oral, contadas aqui e ali, reproduzidas pelos violeiros e pelos cordéis.
Em 9 de março de 1994 o poeta completou 85 verões e foi homenageado com o LP “Patativa do Assaré – 85 Anos de Poesia”, com participação das duplas de repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio e Otacílio Batista e Oliveira de Panelas. Como narrador do progresso nos meios de comunicação expôs em Presente Disagradável suas convicções autênticos, sobre o aparelho de televisão:

“Toda vez que eu ligo ele
No chafurdo das novela
Vejo logo os papo é feio
Vejo o maior tumaré
Com a briga das mulhé
Querendo os marido alheio
Do que adianta ter fama?
Ter curso de Faculdade?
Mode apresentar programa
Com tanta imoralidade!”

Quase sem audição e cego desde o final dos anos 90, o grande e modesto poeta brasileiro, com apenas um metro e meio de altura, morreu em sua casa, em Assaré, interior do Ceará, a 623 quilômetros da capital estadual Fortaleza, aos 93 anos, após falência múltiplas dos órgãos em conseqüência de uma pneumonia dupla, além de uma infecção na vesícula e de problemas renais, foi enterrado no cemitério São João Batista, na sua cidade natal.